domingo, 29 de março de 2009

Sobre a Autoridade

Sobre a Autoridade
Friedrich Engels
Março de 1873
Escrito: Outubro de 1872 - Março de 1873.
Primeira Edição: Dezembro de 1873 na Coletânea"Almancco Republicano per l'anno de 1874".
Fonte: Sobre a Autoridade, texto em Galego disponível em Marxists Internet Archive.
Tradução de: Paulo Henrique Oliveira Porto de Amorim para o Marxists Internet Archive, setembro de 2005.
HTML de: Fernando A. S. Araújo para o Marxists Internet Archive, outubro de 2005.
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
Alguns socialistas abriram, nestes últimos tempos, uma campanha em regra contra aquilo a que chamam ‘o princípio da autoridade’. Basta dizer-lhes que este ou aquele ato é autoritário para que o condenem. Abusam de tal modo desta maneira sumária de proceder que é preciso examinarmos a coisa mais atentamente. Autoridade, no sentido próprio da palavra, quer dizer: imposição da vontade de outrem sobre a nossa; e, por outro lado, autoridade supõe subordinação. Ora, na medida em que estas duas palavras soam mal e que a relação que representam é desagradável para a parte subordinada, trata-se de saber se há meio de passar sem elas e se - dadas as atuais condições da sociedade - poderemos dar à vida um outro estado social no qual essa autoridade não tenha mais razão de existir e onde, por conseguinte, deva desaparecer.
Examinando as condições econômicas, industriais e agrícolas que estão na base da atual sociedade burguesa, verificamos que tendem a substituir cada vez mais a ação isolada pela ação combinada dos indivíduos. A indústria moderna substituiu as pequenas oficinas de produtores isolados pelas grandes fábricas e oficinas onde centenas de operários vigiam máquinas complexas movidas pelo vapor; os carros e as camionetas nas grandes estradas são suplantados pelos comboios nas vias férreas, tal como as pequenas escunas e faluas à vela o foram pelos barcos a vapor. A própria agricultura caiu pouco a pouco no domínio da máquina e do vapor, os quais substituem lenta, mas inexoravelmente, os pequenos proprietários pelos grandes capitalistas que cultivam com a ajuda de operários assalariados grandes superfícies de terrenos. Em todo o lado a ação independente dos indivíduos é substituída pela ação combinada, a complicação dos processos interdependentes. Mas, quem diz ação combinada, diz organização; ora, é possível a organização sem a autoridade?
Suponhamos que uma revolução social tenha destronado os capitalistas que presidem agora a produção e a circulação das riquezas. Suponhamos, para nos colocarmos por completo no ponto de vista dos anti-autoritários, que a terra e os instrumentos de trabalho se tornaram a propriedade coletiva dos trabalhadores que os empregam. A autoridade terá desaparecido ou terá pura e simplesmente mudado de forma? Vejamos.
Tomemos por exemplo uma fiação de algodão. O algodão deve passar pelo menos por seis operações sucessivas antes de ser reduzido a fio, operações que se fazem, na sua maioria, em salas diferentes. Além disso, para manter as máquinas em movimento, é preciso um engenheiro que vigie a máquina a vapor, mecânicos para as reparações cotidianas e numerosos serventes que transportem os produtos de uma sala para a outra, etc.
Todos estes operários, homens, mulheres e crianças são obrigados a começar e a acabar o seu trabalho a horas determinadas pela autoridade do vapor que não se importa com a autonomia individual. É preciso, pois, primeiramente, que os operários se entendam quanto às horas de trabalho, e que essas horas, uma vez fixadas, se tornem a regra para todos, sem nenhuma exceção. Depois, em cada uma das salas e constantemente, surgem questões de detalhe sobre o modo de produção, sobre a distribuição dos materiais, etc., questões que é preciso resolver imediatamente, sob pena de ver parar toda a produção; quer se resolvam pela decisão de um delegado proposto por cada ramo de trabalho, ou, se possível, pelo voto da maioria, a vontade individual deve sempre subordinar-se; quer isto dizer que as questões serão resolvidas autoritariamente. O mecanismo automático de uma grande fábrica é bem mais tirânico do que alguma vez o conseguirão ser os pequenos capitalistas que empregam os operários. Pelo menos nas horas de trabalho pode-se escrever na porta da fábrica: Lasciate ogni autonomia voi che entrate! [1N]. Se, pela ciência e pelo seu gênio inventivo, o homem submeteu as forças da natureza, estas se vingam submetendo-o, já que delas se usa, a um verdadeiro despotismo independente de qualquer organização social. Querer abolir a autoridade na grande indústria, é querer abolir a própria indústria, é destruir a fiação a vapor para voltar à roca de fiar. Tomemos, como outro exemplo, a estrada de ferro. Também aí, a cooperação de uma infinidade de indivíduos é absolutamente necessária, cooperação que deve ter lugar em horas bem precisas para que não ocorram desastres. Também aí, a primeira condição para o seu uso é uma vontade dominante que resolva todas as questões subordinadas, vontade representada quer por um único delegado, quer por um comitê encarregado de executar as decisões de uma maioria de interessados.
Num ou noutro caso, há uma autoridade muito pronunciada. Mas, o que é mais: que aconteceria ao primeiro comboio que partisse caso se abolisse a autoridade dos empregados da estrada de ferro sobre os senhores passageiros? Porém, a necessidade da autoridade, e de uma autoridade imperiosa, não pode ser mais evidente que num navio em alto mar. Aí, no momento do perigo, a vida de todos depende da obediência instantânea e absoluta de todos à vontade de um único.
Quando avanço tais argumentos contra os mais furiosos anti-autoritários, estes não sabem o que responder:"Ah! Isso é verdade, mas o que damos aos delegados não é uma autoridade, mas sim uma missão!". Estes senhores julgam ter mudado as coisas quando só mudaram os nomes. Eis como estes profundos pensadores gozam com as pessoas.
Acabamos, pois de ver que, por um lado, certa autoridade, atribuída não importa como, e, por outro lado, certa subordinação são coisas que, independentemente de toda a organização social, se impõem a nós devido às condições nas quais produzimos e fazemos circular os produtos.
Vimos, além disso, que as condições materiais de produção e da circulação se complicam inevitavelmente com o desenvolvimento da grande indústria e da grande agricultura e tendem cada vez mais a estender o campo dessa autoridade. É, pois, absurdo falar do princípio da autoridade como de um princípio mau em absoluto, e do princípio da autonomia como de um princípio bom em absoluto. A autoridade e a autonomia são coisas relativas cujos domínios variam nas diferentes fases da evolução social. Se os autonomistas se limitassem a dizer que a organização social do futuro restringirá a autoridade aos limites no interior dos quais as condições de produção a tornam inevitável, poderíamos entender-nos; em vez disso, permanecem cegos perante todos os fatos que a tornam necessária, e levantam-se contra a palavra.
Porque é que os anti-autoritários não se limitam a erguer-se contra a autoridade política, contra o Estado? Todos os socialistas concordam em que o Estado político e com ele a autoridade política desaparecerão como conseqüência da próxima revolução social, ou seja, que as funções públicas perderão o seu caráter político e se transformarão em simples funções administrativas protegendo os verdadeiros interesses sociais. Mas os anti-autoritários pedem que o Estado político autoritário seja abolido de um golpe, antes mesmo que se tenham destruído as condições sociais que o fizeram nascer. Pedem que o primeiro ato da revolução social seja a abolição da autoridade. Já alguma vez viram uma revolução, estes senhores? Uma revolução é certamente a coisa mais autoritária que se possa imaginar; é o ato pelo qual uma parte da população impõe a sua vontade à outra por meio das espingardas, das baionetas e dos canhões, meios autoritários como poucos; e o partido vitorioso, se não quer ser combatido em vão, deve manter o seu poder pelo medo que as suas armas inspiram aos reacionários. A Comuna de Paris teria durado um dia que fosse se não se servisse dessa autoridade do povo armado face aos burgueses? Não será verdade que, pelo contrário, devemos lamentar que não se tenha servido dela suficientemente? Assim, das duas uma: ou os anti-autoritários não sabem o que dizem, e, nesse caso, só semeiam a confusão; ou, sabem-no, e, nesse caso, atraiçoam o movimento do proletariado. Tanto num caso como noutro, servem à reação.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Os Heróis e a Luta de Classes























“As idéias da classe dominante são, em todas as épocas, as idéias dominantes.”- Marx e Engels, A ideologia alemã. A ideologia

Vivemos hoje um período de crise, no qual, o capitalismo se encontra dia após dia em beco cada vez mais sem saída. O desemprego, a falência de fábricas e bancos e a miséria crescente da classe trabalhadora, fazem a massa de trabalhadores questionarem cada vez mais esse sistema, suas leis, seu estado e sua lógica.

As ocupações de fábricas na Indonésia, Ucrânia, Irlanda, Escócia e até mesmo nos estados unidos, em Chicago e as greves na Inglaterra, França, Grécia e Itália demonstram a insatisfação da classe trabalhadora e sua disposição a luta. Diante disso, a burguesia (a classe dominante, as elites de nossa época, os grandes empresários e latifundiários) usa de todos os artifícios para enganar os trabalhadores.

Tenta de toda a maneira impedir os trabalhadores de tomar consciência, de que o atual sistema favorece apenas a burguesia que explora os trabalhadores, que seu estado e suas leis servem como instrumento de dominação e opressão e que sua lógica é lucrar! Lucrar! E que farão de tudo para conseguir isso, desde por fim aos direitos dos trabalhadores até destruir um país inteiro!

 A mídia tem um papel fundamental nisso, fazendo os trabalhadores acreditar que a crise é de responsabilidade de todos e que todos devem se mobilizar para impedir o pior, isentando assim à responsabilidade da burguesia e enganando os proletários (a classe dos trabalhadores, que não possuindo nada além de sua força de trabalho, são obrigados a trabalhar para a burguesia). Como Marx e Engels, haviam afirmado: “As idéias da classe dominante são, em todas as épocas, as idéias dominantes.”- em nossa época as idéias dominantes expressão as idéias da burguesia.

Ela através do cinema, do teatro, dos jornais, da TV e até as histórias em quadrinhos, ou os próprios desenhos animados impõe sua ideologia, mostrando que não existe luta entre proletários e a burguesia. Ela faz de suas leis e seu estado um ideal que está acima de qualquer princípio. A defesa da propriedade privada dos meios de produção (empresas e terras) é um mandamento que jamais pode ser violado. Se prestarmos bem atenção, quando assistimos o jornal e a mídia vai tratar de uma manifestação de estudantes pelo passe-livre, por exemplo, como uma baderna, ela nem ao menos da o contexto do por que os estudantes fazem o ato.

Ela não explica que o passe-livre irá conceder o direito a milhares de estudantes de chegar à escola, que a educação é um direito, que deveria ser de acesso de todos, mas devido ao nosso sistema capitalista, que priorizar dinheiro para os banqueiros ao invés da educação, esse direito não é exercido.

Tudo que a mídia faz, é mostrar que os estudantes são baderneiros que destroem o bem público, ou seja, fazem de tudo para descaracterizar a manifestação, pois ela vai contra os interesses de quem financia o jornal. Desculpe-me pela longa explicação, mas acho isso extremamente necessário para a discussão a seguir. Foi necessário introduzir algumas idéias do pensamento marxista, para que assim possamos ter maior entendimento sobre o que irei analisar.

 Milagre, a natureza Humana e os fins justificam os meios.

 Em Watchmen temos super- heróis em crise e um mundo em plena a guerra fria. O bloco da burocracia soviética contra o bloco capitalista. A guerra do Vietnã vencida e o presidente Nixon eleito por mais duas vezes. A realidade paralela de Alan Moore tem intrínseco em sua história à ideologia dominante. Não só em Alan Moore isso acontece, mas em grande parte dos quadrinhos. Se observarmos o Capitão América, será seu nome e sua roupa uma mera coincidência? O Super homem, que defende os ideais de justiça e liberdade, será coincidência que esses ideais sejam os mesmo que a burguesia clama a todo o momento?

E o X MEN, que no último filme mostra o fera, personagem que faz a mediação entre o governo e mutantes terminar como secretário da ONU, será isso uma mera coincidência? Afinal, a secretaria de um órgão tão importante fique nas mãos, do que no filme, é um representante de uma minoria, não será isso semelhante ao que fazem com os negros? Não o é semelhantes às cotas? Você colocar um negro para tentar fazer com que estes integrem ao sistema, os tendo sobre controle e impedindo que se coloquem contra o sistema, onde está a origem de sua exclusão?

 E o Batman, que combate o crime o para sensibilizar os ricos de Ghotam para que eles se mobilizem contra as desigualdades. Será que as causas dessas desigualdades não estariam ligadas ao sistema capitalista que explora e oprime os trabalhadores, o que os leva a roubar, matar e assassinar e será que um meio de acabar com isso não seria por fim a esse sistema...

Mas aí tem problema! O Batman e os heróis defendem o sistema capitalista, seu estado e suas leis e não vão à raiz dos problemas da sociedade. Quando, em Watchmen, vi um dos heróis falar que não se pode lutar contra a natureza humana...

Pensei que natureza é essa? Afinal o homem nasce corrompido? Ele nasce com tendência ao crime? Outra questão, que me chamou a atenção foi que diante do fim do mundo, em uma terceira guerra, Dr. Manhattan convencido do milagre da vida retorna a terra para ajudar; e a terceira coisa, que me chamou atenção foi à idéia de que os fins justificam os meios, será isso certo? Será isso justo, dentro da moral da burguesia? Bom, primeiro Watchmen quebra qualquer padrão de super herói. Ele mostra de outra forma o que seriam os super- heróis em nossa realidade, que em minha opinião seriam um super meio de opressão, afinal todos defendem a ordem.

 Quanto ao homem ser corrompido em sua essência. È isso que a burguesia quer nos convencer, afinal o estado é um instrumento usado para dominar e oprimir, ele é composto de uma burocracia e de um corpo de homens armados. Sendo a sociedade capitalista, uma sociedade de classes, o estado sempre fica do lado da classe que detêm maior poder econômico.

É só notarmos a quantidade de políticos da burguesia e empresários presos, ou como se mobiliza a polícia para repressão de uma manifestação e como não fazem o mesmo para prender os ricos e poderosos; Ou as leis, por mais que a classe trabalhadora consiga ter um representante no parlamento ou no estado, a constituição do estado é burguesa, ou seja, segue a defesa da propriedade privada dos meios de produção e a burguesia apesar de ceder algumas vezes, em grande parte ela aprova leis que beneficiam mais a burguesia e não os trabalhadores.

 O milagre, sim a burguesia atéia ou agnóstica que fez a revolução francesa hoje se rende ao dogma e ao misticismo. Diante do precipício que se encontra ela não pensa apenas reza esperando um milagre. O que demonstra no filme é que devemos sempre esperar por milagres e que eles existem. Que quando mais nada adiantar deus irá nos ajudar. Nada mais absurdo, pois isso é a capitulação total da razão. A burguesia nos levando ao caos de uma crise, busca no céu a saída! Afinal é pecado pensarmos em uma socialização dos meios de produção, ou em um estado operário. Essas saídas são utópicas. Utópico é deixar o destino da humanidade nas mãos de amigos imaginários!

 Os fins justificam os meios, sim para a burguesia isso é bem fácil de compreender: “Todos os meios, não importa o quanto imoral seja, justifica os fins dos lucros!” Se tiver que desempregar milhões, destruir todos os direitos, matar milhões e destruir um país inteiro, a burguesia o fará. No fim do filme, se usa de um desses meios para manter a ordem, se impede uma guerra, mas se mantêm a ordem do capitalismo. Nossos fins justificam nossos meios Os Fins de uma sociedade socialista, na qual a lógica não seja o lucro mais o bem estar e o desenvolvimento humano justificam os meios de uma revolução.

A classe burguesa usa da mídia, do exército e tudo que poder para manter a sociedade da exploração do homem pelo homem. Os marxistas são favoráveis a uma revolução sem violência, mas sabemos que a burguesia, como já tem demonstrado, não vai se render sem lutar. (trataremos sobre esse tema em outro texto). Não estou acusando os autores de quadrinhos de agentes da burguesia, Alan Moore, por exemplo, era um niilista como demonstra em V de vingança.

O que estou dizendo é que os autores de quadrinhos estão tão influenciados pela ideologia burguesa como qualquer trabalhador ou político. O filme não da qualquer perspectiva de mudança tudo que ele mostra é o caos. Talvez esse seja o sentimento da burguesia atualmente. A crise fará que vários heróis voltem às telas, assim como surgiram na década de 40 e 50, eles voltaram às telas para afirmar o capitalismo. Como militante marxista, fica aqui minha análise do filme.

João Diego Leite

terça-feira, 3 de março de 2009

Contra o aumento da tarifa do transporte coletivo

No dia 21 de março, às 18h 30min, a frente de luta pelo transporte público, composta por estudantes, trabalhadores, associação de moradores, sindicatos, grêmios estudantis e organização políticas convoca para frente do terminal central, uma manifestação repudiando o aumento da tarifa do transporte coletivo. Todos que se posicionam contrário ao aumento dessa tarifa devem comparecer!