quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

De volta para casa...

“Fiquem junto às pessoas humildes”, disse Alberto Granado, ao responder a pergunta:

 “O que fazer, quando se aventurar como ele e Che?”.

Os dois saíram da Argentina e passaram por alguns países da América do Sul. Parte de moto e grande parte caminhando e de carona.

“Queriam conhecer a América, que conheciam somente pelos livros”, como afirmava Che, em seu diário.
A entrevista era no fantástico e ficou gravada na minha mente. Como alguns, eu me tornei comunista lendo esse argentino.

Quando cheguei a Buenos Aries, isso me veio à mente. Sabe...

Os primeiros dias da construção do grêmio estudantil na minha escola. Quando eu usava a camisa do Che e junto com meus amigos desafiávamos o pensamento reacionário de uma ditadora (como chamávamos a diretora da minha escola, ela era isso mesmo).

Aquela vontade e coragem da juventude de mudar o mundo e de fazer algo. Isso, para nós, era representado na imagem desse argentino...

Nunca havia imaginado viver aqui. Lembro-me, quando um companheiro me disse:

-Quer ir à Argentina? Acham que é você que precisa ir.

Na hora, não pensei muito no que ele me disse. Estava tão ocupado com a faculdade e o nosso congresso. Que simplesmente disse:

                -Ok. Vou pensar.

Eu tinha uma semana para responder. E durante a semana, nos intervalo das minhas tarefas, eu conversei com um e outro companheiro. Até que houve uma reunião para, entre outras coisas, ouvir minha decisão.
Antes de decidir um velho camarada e uma amiga me disseram:

                - JD, o que vais aprender em um ano lá, em nenhuma faculdade se ensina.

 Isso eles tinham e tem razão. Não renego a academia. Acho importante a formação acadêmica. Mas realmente a militância ensina.

Discutir o internacionalismo revolucionário. Que inicia com a famosa frase do Manifesto Comunista: “proletário de todos os países uni-vos”. É uma coisa bem diferente de vivê-lo.

A unidade é muito rara aqui e se faz necessária. Não só de uma frente única entre as organizações, mas um partido de massas, em que o proletariado possa se apoiar contra a burguesia.

E esse partido não se forma, em grande parte porque as “vanguardas do proletariado”, que como dizia Rodolfo Puiggrós, de vanguarda não têm nada. Esquecem-se do essencial, ao ser uma vanguarda do proletariado é necessário estar com o proletariado!

Esses senhores estão bem longe disso.

O peronismo, como sempre é fruto dessa inutilidade da esquerda. Como me disseram muita gente que eu conheci:

                - Juan, nuestro problema es que La izquierda es inútil y el peronismo es lo que hay.

Ouvi isso muitas vezes. Na falta de alternativa vão ao Peronismo.

A Crise de 2001 ainda não está encerrada. As massas ainda lembram-se do dia em que derrubaram presidentes e o governo. O dia em que se viveu uma revolução, na Argentina.

Ao contrário do Brasil, eu diria que aqui existe uma situação de tensão. A polarização, entre ricos e pobres, burgueses e proletários parece viva na mente de La gente común…

Bom, mudando de assunto um pouco. Meu pai sempre me perguntava como eu estava sendo tratado. Afinal, argentina é nosso grande rival no futebol. E não passa disso...

Sinceramente fui tratado muito bem. Quando me perguntavam:

                - ¿De dónde sois vos?

                - yo, soy de Brasil.

                -¡Brasil! ¡Qué bueno!

Nos círculos militantes era interessante. Quando me perguntavam se militava e eu dizia que sim. Que era militante do PT, de Lula. Havia dois tipos de posições.

Na esquerda, militar no PT é estar na direita. A mesma esquerda que se crê “vanguarda”. Nos círculos mais desvinculados a essas seitas, como militantes peronistas, ex-militantes ou gente comum. Isso era visto como grandioso.

Pois eles reconheciam, que por mais que não seja o governo que queremos, esse governo é nosso governo. O mais interessante ainda era explicar que eu tinha criticas a lula, que ele havia se aliado com muitos partidos de direita e explicar toda a posição que temos frente às políticas do governo do PT.
Ser do PT me facilitou muito o diálogo. Com quem me interessava, não com militantes que se dizem de esquerda e apóiam golpe de estado no equador.

E que levo da Argentina?

Bom, primeiro livros. Sabem, é muito bom hablar castellano. Muito bom mesmo. Posso ler clássico da literatura latina, em sua língua. Assim como posso ler coisas, muitas coisas do marxismo, que estão em castellano, mas não em português.

Segundo, acho que a argentina me fez amadurecer um pouco. Entender o significado da paciência e ver as coisas de uma maneira mais ampla, mais detalhada.

Terceiro, que se lendo um argentino eu me tornei comunista. Vivendo na argentina eu só tive mais certeza dos sonhos desse argentino. Que são os mesmo que os meus e de todo o trabalhador do mundo.

Uma sociedade onde todos tenham emprego, saúde, educação e sejam tratados de maneira digna. Uma sociedade socialista.

Camaradas, nosotros nos vemos pronto.

Hasta La victoria Siempre.

Juan Diego.
Buenos Aries.
22/12/10
04h51min

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