segunda-feira, 7 de março de 2011

'DEATH NOTE': MATAR PARA MUDAR?

Segue abaixo meu texto sobre o anime Death Note, publicado no site: http://www.marxismo.org.br/index.php

“As idéias da classe dominante são, em todas as épocas, as idéias dominantes.”
(Karl Marx e Friedrich Engels, A ideologia alemã)

Death Note (“Caderno da Morte”) é um anime (desenho animado japonês) que conta a história de um caderno com o poder de matar. Basta o possuidor escrever o nome da vítima e ter em mente o seu rosto. Feito isso, depois de alguns minutos a pessoa em que se pensou está morta.

A trama começa com um jovem estudante chamado Raito (O nome correto é Light - Luz, do inglês - entretanto, em razão das peculiaridades do idioma japonês, a pronúncia é Raito) que encontra o caderno no chão. Ao descobrir seu poder, ele resolve usá-lo em favor da “justiça”, o que ele pensa ser justiça, pois está revoltado com o aumento da violência em seu país.

Em posse do caderno, a idéia é matar todos os criminosos. Mata todos que infringem a lei, do ladrão de galinha ao engravatado.

“Todos os criminosos devem morrer para ser feita a justiça”.

Essa é uma idéia muito comum e pode agradar muitos jovens. Num primeiro momento pode se pensar: “Os bandidos estão livres para fazer o que quiserem. Alguns tiros não fariam mal. A pena de morte pode funcionar. O exército na rua, como hoje acontece no Rio de Janeiro, também pode ajudar a terminar com o crime.”

Isso é o que a burguesia (grandes empresários e latifundiários) quer que pensemos. Que não existe saída para o combate ao crime que não seja por meio repressivo.

Mas por que ela quer que pensemos isso?

Porque a origem do crime está na desigualdade social e na ideologia do sistema capitalista.

Vivemos em uma sociedade capitalista, em que uma pequeníssima parcela da população, a burguesia, domina e explora a grande maioria. Enquanto eles têm bilhões, casas luxuosas e as melhores escolas, os trabalhadores nem casa possuem e vivem muitas vezes em condições desumanas.

A propaganda capitalista tenta convencer os trabalhadores de que é preciso trabalhar mais e mais, consumir mais e mais e que todo mundo pode ser rico. Mostram seu padrão de vida como “modelo ideal” de felicidade.

O que não mostram é que esse modelo é impossível de ser atingido por grande parte da população.

O capitalismo está fundado na exploração. Para que uma minoria de burgueses viva no paraíso condena-se grande parte da população à barbárie. Nesse sistema é preciso explorar o trabalho de muitos para sustentar os privilégios de poucos.

Tudo que interessa à burguesia é manter o seu domínio, assim o Estado, o governo, as leis, a polícia e o Exército, que existem sob o pretexto de representar o povo, na verdade não fazem nada a não ser servir a essa classe dominante.

Como afirmava Friedrich Engels “O estado é nada mais que uma máquina para a opressão de uma classe por outra...” – (A Guerra Civil na França).

Raito dá um bom exemplo disso. Quando durante o anime, tanto a polícia como outras pessoas o confrontam ele não resiste em matá-las. Afinal para Raito,assim como para a burguesia, desobediência também é crime.


“L” e o Estado burguês

O fato de Raito agir como um justiceiro, matando os criminosos e desrespeitando as autoridades dos Estados e governos, leva os líderes mundiais a tomar uma atitude. Então, eles resolvem pedir ajuda do melhor detetive do mundo. Ele nunca foi visto e ninguém sabe o seu nome verdadeiro. Todos apenas o conhecem por “L”.

Ele e Raito travam uma luta emocionante durante o anime. “L” tenta provar que Raito é Kira (como os japoneses dizem “Killer”, assassino, em inglês). Raito tenta descobrir a identidade de “L” para matá-lo, pois ele é uma barreira para seus planos.

É nesse momento em que os fãs dividem-se. Uns apóiam Raito, em sua “purificação do mundo”, outros “L” na luta contra Kira, o assassino que misteriosamente está matando os criminosos.

Indo além das brigas de torcidas, se analisarmos os ideais de Rayto e “L”, nós veremos que os dois não têm tanta diferença assim.

Os dois representam duas faces da mesma moeda. Duas frações da mesma burguesia.

“L”, diferente de Raito, têm algumas regras. Mas mesmo assim, ele não hesitou em torturar e burlar suas regras, para tentar capturar Raito. Em um episódio, um discípulo de “L” explica o seu método e deixa claro, sobre que princípios que ele age.

Segundo o discípulo, a forma mais rápida de evitar uma tragédia ainda maior, seria matar o suspeito: Raito. Assim as mortes iriam parar e estaria provado que Raito é Kira.

Entretanto, por maior que seja o desejo de matar Raito, o discípulo diz que não fará, pois esse não é o método de “L”.

Ou seja, Raito é um tipo de ditador: ele manda e desmanda. “L” é democrático, ele acredita na lei. Ele quer levar Raito ao júri para ser julgado e condenado, enquanto Raito, por sua vez, julga e sentencia à morte todas as suas vítimas.

Até podemos afirmar que “L” é mais democrata que Raito, mas nenhum dos dois vê a criminalidade como algo causado pelo meio social em que vivem. Para os dois combate-se o crime armando a polícia, matando e prendendo os criminosos.



O caderno nas mãos da burguesia

Em um dos episódios do anime, o caderno cai na mão de um grupo de empresários. Diferente de Raito, que deseja “purificar o mundo”, tudo que eles querem é ganhar dinheiro. Como todo burguês, eles desejam o fim da concorrência.

O caderno torna-se uma arma eficiente contra seus concorrentes. Matam os donos das empresas que os ameaçam, sem pena.

Ao passo que Raito usou o caderno para “purificar o mundo”, os empresários o utilizaram para manterem-se no poder e adquirir mais poder. Para tanto, eles mataram, um a um, todos os concorrentes.

Muitos amigos com quem conversei, dizem que ao ter o caderno, uma das coisas que fariam era matar os políticos e empresários. Isso não ia alterar o sistema. Durante a história, nossos algozes foram atacados e alguns mortos, como Alexandre II, da Rússia.

Isso não mudou o sistema, nem derrubou o império, ao contrário isso ajudou a monarquia a justificar a repressão.

É interessante essa parte do anime, pois mesmo com a morte de alguns empresários e até de parte dos que possuem o caderno, nada muda. Matar o maior empresário do mundo ou do Brasil, não poria um fim ao capitalismo.

São as massas organizadas que derrubam o sistema e revolucionam a sociedade, não pequenos grupos em ataques individuais que irão derrubar o capitalismo.

Nossos meios de luta contra o capital devem ser meios que envolvam as massas, que as fortaleçam que as eduquem na luta contra o capital.

Como afirma Trotsky: “Bons são os métodos e os meios que elevam a consciência de classe dos operários, sua confiança em suas próprias forças, sua disposição à abnegação e à luta” (Programa de Transição).


O Autor de Death Note e o fim da criminalidade

De acordo com os sites na internet, ninguém sabe ao certo quem é o criador de Death Note. Seu nome Tsugumi Ohba é um pseudônimo, que dizem ser de Hiroshi Gamou, autor da série de mangá Tottemo! Luckyman.

A verdade é que esse fato só contribui para afirmar que o homem é um produto de seu meio, assim como suas idéias. Afinal o autor criou “L” à sua imagem e semelhança. Não estou acusando o autor de um agente da burguesia, como afirmei em meu texto sobre a luta de classes e os heróis.

Os artistas são influenciados pela ideologia dominante como qualquer outro trabalhador ou político.

No anime, a idéia de solução para o crime é a repressão. O autor pode não estar de acordo com isso e simplesmente expor essa solução, por ser a única que conhece, o que pode ser ingenuidade ou, o mais provável, influência das idéias mais conhecidas.

Os marxistas propõem a revolução socialista, como a única forma de pôr um fim na exploração e na miséria. É por causa dessa exploração e miséria que se intensificam os roubos, mortes e assassinatos em nossa sociedade.

O crime surge no sistema capitalista como um atalho para a “felicidade da burguesia”, na parte mais miserável da população.

O capitalismo já não desenvolve mais a sociedade. Ele não traz o bem estar da população. Tudo que o capitalismo traz é a exploração, o desemprego e a guerra. Todos os meios são utilizados pelos burgueses para manterem-se no poder.

Não adianta colocarmos mais policiais nas ruas, construirmos mais cadeias e termos penas mais duras. O problema é o Sistema. Para pôr um fim à criminalidade é preciso derrubar esse Sistema.

Death Note tem alta qualidade. Os desenhos são muito bem feitos. Rico em detalhes, com clima sombrio e solitário. Não bastasse isso, possui uma ótima trilha sonora que interage com cada episódio e atitude dos personagens.

Como a maioria dos animes, ele é baseado em um mangá (história em quadrinhos japonesa) que é ilustrado por Takeshi Obata. O anime conta com 37 episódios, que no Brasil foram exibidos pelo canal de TV pago Cartoon Network, muito embora os fãs de anime prefiram baixá-lo da internet e assistir legendando.


* João Diego Leite é militante marxista e fã de animes.

10 comentários:

  1. foi a resenha-explicação-opinião mais interessante e completa q já li! sou muito fã de DN e concordo com tudo! não vi nada d ruim em DN, acho q foi exposto todas as fases q deveriam ter sido exploradas: dependendo da pessoa q o possuísse sua serventia mudava, e mesmo quando L morre, ainda fica bom! sou fã do Near e concordo com o final (aquela reação é típica de 1 psicopata). parabéns pelo texto, só gostaria q houvessem mais mangás/animês como DN!

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    1. Muito obrigado Taty, esse é o meu novo blog, por favor acesse: http://blogsubversivos.blogspot.com.br/

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  2. Foi realmente uma resenha incrível, não limitou-se apenas ao anime, deu também uma aula de política, embora a série tenha muito desse conteúdo. A crítica ampliará a visão de todos que lerem esse texto.

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    1. Muito obrigado, esse é o meu novo blog, por favor, acesse: http://blogsubversivos.blogspot.com.br/

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  3. Penso que o socialismo de fato diminuiria a criminalidade, mas temos que ter em mente que existem psicopatas que comentem os crimes mais torpes sem a pretensão de ganhar "cash".
    Logo para mim, um mundo sem crimes é utopia. Os humanos sempre terão divergência de opiniões, e pode ter certeza que isso contribui para a criminalidade

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  4. Você colocou os criminosos na mesma balança que os trabalhadores honestos kkk. Os criminosos são fruto, em grande parte, de pessoas que não querem viver uma vida correta diante da Lei. A decisão de me tornar uma pessoa honesta foi escolha minha. A sociedade não me encaminhou a ser o que eu sou hoje. Hoje todos podem estudar. A Lei precisa ser repressiva, dura. Ela precisa ser materializada em forma de Pena de Morte nos crimes hediondos, para que não haja mais sensação de impunidade entre os criminosos.

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    1. Leis mais duras? Olhe os Estados Unidos, as leis são duras e a criminalidade não diminui, pelo contrário o país ficou mais injusto. Acho que vc não sabe, mas hoje existe mais negros presos que na época da escravidão. Além disso, acho que vc não vive no Brasil, pois se vive não enxerga as desigualdades em nosso país que todos o anos milhares de jovens não conseguem entrar na universidade e que muitos nem o ensino médio termina. Vc não deve ter visto as manifestações que ocorreram em Julho, onde as principais reivindicações era saúde, educação e transporte.

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    2. Manifestações? Que a própria esquerda criou? A ta bom beleza, sonha que era pobre que tava lá, tinha estudante ganhando dinheiro para quebrar e depredar. Uma pessoa não se joga de um precipício porque sabe das consequências, quem for cometer um crime tem que saber que irá pagar com a vida assim como quem pula no abismo, uma vez tendo esta certeza um ladrão pensará muito mais de duas vezes antes de algum crime. Crime é culpa da desigualdade social? Burgueses matam muito mais e estes nunca passaram fome. O capitalismo é ruim? Me apresente um sistema que foi melhor do que o capitalismo. O nosso planeta está condenado no ritmo que anda, logo logo a ideologia do o mundo tem gente demais irá se espalhar como praga.

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  5. Eu gostei muito da sua crítica sobre death note, que é o melhor anime que eu já assistir. Realmente concordo com o que foi dito, infelizmente Raito e L não são tão diferentes assim. Entretanto não concordo com este conceito:
    "Até podemos afirmar que “L” é mais democrata que Raito, mas nenhum dos dois vê a criminalidade como algo causado pelo meio social em que vivem. Para os dois combate-se o crime armando a polícia, matando e prendendo os criminosos."
    O Kira ele é um criminoso e se avaliamos o meio social que vivem veremos que ele tinha uma boa vida financeira, estudo de qualidade, saúde e aparentemente uma família feliz, então porque ele virou um psicopata? O meio em que ele vive levou ele a isso? Francamente ele apenas era um estudante entediado que resolveu se tornar Deus.
    E o que dizer de pedófilos, estupradores, e assaltantes que atiraram na cabeça de uma pessoa por causa de um celular...
    O meio em que eles vivem justificam isso?

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